quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Monstros criados pela ciência


Monstros criados pela ciência


O filme japonês Godzilla mostra um monstro criado pela ciência
Reprodução / japan-zone.com
O filme japonês Godzilla mostra um monstro criado pela ciência
No entanto, mais comum que uma relação com o lado social ou existencial da sociedade é a associação entre monstros e ciência, iniciada com a literatura de terror da era vitoriana, na Inglaterra do século 19, e grandemente aprofundada pelo cinema. FrankensteinO Médico e o Monstro e A Ilha do Doutor Moreau (este último do escritor inglês H.G. Wells) são obras em que a ciência não apenas tenta compreender os monstros como acaba por criá-los. O pecado humano é ir além das fronteiras do conhecido, e nossa tentativa de submeter as leis da natureza torna-se nossa própria destruição.
Os filmes pós-Segunda Guerra Mundial com monstros gigantes, que geralmente são explicados como consequências da era nuclear, fazem parte dessa tradição. Godzilla e afins nos remetem então ao significado original da palavra monstro: aquele que alerta. O mau uso da tecnologia e a viagem ao desconhecido são caminhos que podem ocultar monstros, estejam eles no espaço exterior, estejam eles no microcosmo do nosso próprio planeta.
Com a grande expansão do conhecimento geográfico no século passado, graças a tecnologias como o satélite, o radar e o sonar, nossos monstros mudaram de lugar. Deixaram de habitar as geleiras, como nos livros do norte-americano H. P. Lovecraft, ou os lagos profundos da Escócia, como o querido monstro do lago Ness. Eles agora habitam outros planetas, e, assim como as serpentes nas cartas náuticas, estão apenas esperando que nossas naves um dia cheguem lá (o que acontece na série "Alien"). Ou se escondem num universo tão desconhecido quanto o espaço cósmico: o mundo dos micróbios. Nos filmes Extermínio (28 Days Later, 2002),Extermínio 2 (28 Weeks Later, 2007) e Eu sou a Lenda (I'm the Legend, 2007), os morto-vivos, zumbis ou vampiros, como se queira chamá-los, são criados por uma epidemia de vírus. Da escala interplanetária à microscópica, os monstros estão sempre lá, naquele lugar em que não podemos enxergar.



Cena do filme 'Extermínio'. Vírus transforma a humanidade em zumbis comedores de gente
Divulgação
Cena do filme 'Extermínio'. Vírus transforma a humanidade em zumbis comedores de gente
No caso dos alienígenas, é revelador perceber que essas criaturas – tal como a imagem mais famosa que temos delas hoje, a do humanóide baixinho, cinza e cabeçudo – começaram a aparecer no imaginário humano apenas no final do século 19. Ainda que existam indícios de que povos antigos tenham acreditado na existência de seres de outro planeta e especulações sobre essas criaturas possam ser encontradas em obras da Idade Média, foi somente com o desenvolvimento da astronomia moderna que eles deixaram de estar ligados à religião e ao sobrenatural – a noção de ser extraterrestre no contexto antigo, então, estaria muito próxima da ideia de deuses e demônios. Da mesma forma, a aparição moderna de OVNIs e as primeiras investigações oficiais desse fenômeno só tiveram início durante a Segunda Guerra, com testemunhos equivocados de aeronaves dos países do Eixo por parte de pilotos dos países aliados. Logo em seguida, a paranoia se espalhou depois que um piloto civil americano disse ter visto um estranho objeto voador durante o verão de 1947.



O filme 'Guerra dos Mundo' retrata alienígenas como monstros invasores e destruidores da humanidade
Divulgação
O filme 'Guerra dos Mundos' retrata alienígenas como monstros invasores e destruidores da humanidade
Nos anos 50, no contexto dos avanços tecnológicos secretos e do fantasma da hecatombe nuclear da Guerra Fria, também ganhou força, principalmente nos Estados Unidos, o temor das invasões alienígenas. Livros como "Os Invasores de Corpos", que deu origem a três versões cinematográficas (1956, 1978 e 1993), se tornaram grandes sucessos por terem incluído uma roupagem ideológica (capitalismo x comunismo) ao assustador gênero iniciado com "A Guerra dos Mundos", de H. G. Wells.
Depois, foi a vez de o horror de uma possível guerra biológica entre as duas potências mundiais passar a povoar nossos pesadelos, o que piorou com a escalada do terrorismo mundial nos últimos anos. A criação e o uso de vírus como potenciais armas de destruição em massa é uma ideia atemorizante não só porque os vírus representariam necessariamente morte certa, mas porque poderiam deixar sequelas ou transformar os humanos em verdadeiros monstros – e é nessa fonte que bebem os já citados Extermínio e Eu sou a Lenda.
Isso tudo é ainda mais perturbador se levarmos em conta que desde sempre nossa espécie tem enfrentado assustadores casos de epidemias causadas por vírus ou bactérias que eventualmente deixavam milhares ou milhões de pessoas desfiguradas ou seriamente doentes enquanto não morriam, como nos surtos de peste bubônica na Idade Média e nos ataques do Ebola na África contemporânea.
Mais recentemente, uma séria candidata no terreno do microcosmo a povoar nosso medo pelo desconhecido é a nanotecnologia – o autor americano de best-sellers de ficção científica Michael Crichton chegou a lançar um romance sobre o tema há poucos anos, "Presa", no qual uma experiência científica dá errado e uma porção de microrrobôs que podem se autorreproduzir começam a eliminar todos à sua volta.

Mas temos que admitir que os monstros não evocam apenas medo puro e primitivo. Os seres da animação Monstros SA (2000) e o ogro de Shrek(2000) são ótimos exemplos. Eles não dão sustos, pelo contrário, nos fazem rir. Os monstros, então, podem existir não apenas como um vestígio evolutivo, mas como alegorias subliminares.

De onde vem os monstros

Os monstros vivem na nossa imaginação, como em 'Onde vivem os monstros, ou eles existem mesmo?
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Os monstros vivem na nossa
 imaginação, como em
 'Onde vivem os monstros,
ou eles existem mesmo?
Embora o nome original seja diferente (“Where the wild things are”, algo como “Onde as coisas selvagens estão”), o título brasileiro do novo filme do diretor Spike Jonze, Onde vivem os monstros[adaptação do livro de mesmo nome do escritor americano Maurice Sendak, de 1963] , levanta uma questão interessante, ainda que aparentemente irrelevante para os céticos de plantão. Ora, os monstros vivem na imaginação, principalmente na imaginação das crianças, eles diriam. Mas pergunte a eles por que os monstros estão presentes em todas as culturas e sociedades humanas de todos os tempos, ou pergunte por que razão os monstros do mundo inteiro têm características parecidas, e a resposta não virá na ponta da língua. Os monstros na verdade são um assunto complexo e, assim como os heróis, dizem muito sobre nós, seres humanos. Tão antigas quanto nossa própria história, as histórias de monstros fazem parte do medo de uma espécie que ainda não subjugou a natureza totalmente, mas que pretende fazer isso através da lógica e do conhecimento.
A palavra vem do latim monstrum e etimologicamente significa “mostrar” ou “advertir”, e também “segredo divino”. Algumas interpretações vão mais longe e traduzem monstrum como “aquele que adverte”, ou “aquele que revela”.




Mas qual é a razão desses significados? Mais importante do que isso: de onde afinal vem nosso medo inconfesso desses seres imaginários?


Porque mentimos ?


Seriado Lie to Me (recomendo)

O filme "A invenção da mentira" ("The Invention of Lying", 2009) descreve um mundo completamente desprovido de mentiras. Todo mundo conta a mais completa e honesta verdade o tempo todo, e tudo o que uma pessoa diz é levado ao pé da letra. A premissa é engraçada porque isso é totalmente contrário ao mundo em que vivemos. Você pode imaginar dizer a alguém que está terminando o relacionamento por causa da aparência dele/dela? Ou admitir ao seu chefe que leu seus e-mails particulares? E confessar que há dias em que você está tão deprimido que fica chorando na cama?
Nós não fazemos isso em uma sociedade        polida, educada. Se terminamos com alguém, tendemos a pensar numa maneira cortês de fazê-lo, e se alguém nos pergunta como estamos indo, respondemos que vamos bem, quando na verdade gostaríamos de ir para casa e passar um tempo com nossa garrafa favorita de bebida. Em outras palavras, nós mentimos. Mas por quê? Por que somos tão insinceros quando dizemos que valorizamos a honestidade em nossas relações interpessoais?
Na medida do possível, podemos nos orgulhar de nossas mentiras. Mentir é considerado um sinal de inteligência e capacidade cognitiva, porque é preciso alguma aptidão para reconhecer o modo como as coisas são e então criar e apresentar uma alternativa a essa realidade. E é uma capacidade que nós exercitamos bastante; em um estudo publicado no "Journal of Basic and Applied PSychology", pesquisadores descobriram que 60% dos entrevistados mentiram ao menos uma vez durante uma conversa filmada de dez minutos [fonte: Lloyd]. Os pesquisadores relataram que todos os participantes acreditavam que estavam sendo completamente sinceros durante a conversa, por isso quando assistiram ao vídeo, ficaram impressionados ao descobrir que tinham dito coisas mentirosas
A capacidade de mentir e não perceber é um dom exclusivo dos humanos. Não apenas enganamos aos outros, como podemos nos induzir a acreditar ser verdade algo que não é. Isso porque a motivação para mentir geralmente está atrelada à autoestima e à autopreservação. Mentimos em um esforço de criar a melhor versão possível de nós mesmos, e mentimos para que não tenhamos de encarar as consequências desagradáveis que nosso outro e menos perfeito eu causa a si mesmo. Isso quer dizer que podemos mentir sobre nossos feitos ou habilidades, assim os outros nos respeitarão mais, ou para cobrir erros, assim não perderemos esse respeito. Nós também mentimos sobre erros e pecados para evitar punição. Às vezes, o fazemos para evitar ferir os sentimentos de alguém, o que tem o efeito-bônus de garantir que a outra pessoa manterá sua boa opinião a nosso respeito - e não ficar consumido pelo desejo de quebrar nosso nariz.
Mentimos porque funciona, e por causa de seus benefícios. Evitamos punição ao mentir sobre quem rabiscou as paredes com marcador permanente, conseguimos aumentos mais altos ao levar o crédito por tarefas do trabalho que não completamos, e conseguimos amor ao assegurar ao potencial parceiro que ele ou ela não parece gordo (a) naquele jeans. Quando a mentira para de funcionar (quando é descoberta) e tem mais desvantagens que benefícios (sua esposa não olha na sua cara depois de descobrir seu caso extraconjugal) - só assim algumas pessoas dizem a verdade.

Gosto :D